| O Reviewer | Diário de Gameplay |
| Ryu jogou Suikoden I e II, recrutou todos os 108 personagens e conseguiu os finais verdadeiros. Começou Suikoden III, mas nunca terminou. Também jogou e platinou Eiyuden Chronicle: Rising antes de começar Hundred Heroes. | Tempo de jogo: 62 horas. Terminou o jogo: Fez o final verdadeiro. Conteúdo adicional: Recrutou todos os personagens, fez inúmeras atividades paralelas, mas ainda não platinou. Mais informações: Usou um guia para conseguir encontrar todos os personagens porque o jogo não ajuda tanto nesse quesito. |
Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes foi um projeto de financiamento coletivo bem-sucedido do Kickstarter. Ele é um sucessor espiritual da série Suikoden, visto que foi produzido pelo próprio criador da franquia, Yoshitaka Murayama, em parceria com Junko Kawano, uma artista sempre presente em Suikoden. Infelizmente Murayama faleceu antes do lançamento do jogo, mas estamos aqui para homenagear sua obra.
E pra resumir: eu tive emoções mistas em relação a Eiyuden. Foi uma montanha-russa de sentimentos. Ora eu gostava demais do que tava vendo, ora eu torcia meu bico de papagio. No fim, o saldo foi positivo. Se quiser saber o que achei do game, confira aqui na minha review de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes.
História e Mitologia
Vou começar pela história, que está totalmente em PT-BR. As imagens no vídeo e na review são da minha gameplay, mas estão em inglês porque eu acostumei a jogar nesse idioma após 30 anos de carreira. Eiyuden Chronicle se apresenta como tendo três protagonistas em sua trama: Nowa, Seign e Marisa. Inicialmente, começamos com Nowa. O garoto começa a aventura se juntando à uma milícia das Liga das Nações, regida pela condessa Perrielle, uma das minhas personagens favoritas. Sem cerimônias o garoto já se enturma com Garr, Mio e Liann e parte em uma primeira missão em conjunto com um esquadrão do império de Galdea. Esquadrão esse liderado por Seign Kesling, o segundo protagonista.

Juntos, uma equipe de seis vai até uma antiga ruína procurar por uma runa primeva, enquanto mostram que uma operação em conjunto entre a Liga das Nações e o Império de Galdea é proveitosa e os países deveriam ser aliados. Dentro das ruínas, Nowa e Seign se tornam amigos, um pouco rápido demais, mas tá valendo.
O começo serve para introduzir os personagens, sua personalidade e dinâmica. Nowa é muitas vezes definido como um “intrometido”, alguém que se mete no problema de todos e quer ajudar. Esse traço serve como uma muleta pro resto do jogo, justificando o jogador ajudar qualquer NPC em troca de praticamente nada só porque o Nowa é, como foi definido, intrometido. Enquanto Seign é mais rigído, com uma postura de militar que deve cumprir com seu dever. Já cada personagens secundários tem uma característica forte bem marcante, as quais são expressas a qualquer oportunidade, como o entusiasmo no limite da irritação de Liann.
Após encontrar as runas, Nowa e Seign se separam, meses se passam, e o menino Nowa acaba se tornando o líder da milícia sem um motivo concreto. Não demora muito para que ele também se torne todo o líder da resistência e o jogo me obrigasse a expandir o meu exército, recrutando mais e mais personagens nesse elenco de 120 heróis.

Como de praxe, a trama de Eiyuden é recheada de politicagem, como era Suikoden. Mas diferente do Suikoden, aqui ela é extremamente previsível. Desde o prólogo até o final tudo acontece como foi demarcado. Não há ameaças distintas, não há complicações além do esperado e não tem conflitos além do padrão. É tudo bem clichê. Mas clichês não são automaticamente ruins, certo? Todas as histórias são rechedas de clichês. O que torna uma mais agradável do que a outra são seus persoangens, a força vital de qualquer história, e é aqui que Eiyuden derrapa.
Não existe conflito interno no enredo. Em uma história, o conflito externo é o que move a narrativa. Um vilão, uma ameaça global, um assassino da sua família do qual você quer se vingar, o descobrimento do seu passado apagado, a busca por uma cidade lendária. Enfim, é todo conflito além do protagonista, algo que ele vai atrás. Enquanto o conflito interno são as dúvidas, os medos, os desafios psicológicos e até mesmo as brigas entre aliados por conta de diferenças morais e de convicção. E é no conflito interno que começamos a nos identificar com os personagens e nos relacionar com eles, admirando ou os odiando. Mas não em Eiyuden. Nowa é um cara intrometido, que quer ajudar todos e proteger seus aliados dos inimigos. E é isso que ele faz, oras. Ele nunca tem duvidas gritantes quanto a isso, ele nunca questiona se está no caminho certo, ele não enfrenta nenhum dilema pessoal ou interno. Ele só vai.
E isso se reflete em todos os personagens. Após eles se juntarem ao grupo, muitos perdem qualquer relevância na narrativa e o único contato só é visto no momento do recrutamento. Mas mesmo aqueles que tem um espaço a mais nos holofotes são indivíduos obstinados a só um objetivo: derrotar o antagonista. Foi Seign que teve uma mini-história mais atraente em dado momento, mas foi breve. Marisa, a terceira protaognista, passaria despecebida como alguém do elenco principal se não fosse os trailers compartilhando isso. É tudo tão simples e direto que eu ansiava por algo a mais, queria um plot twist, uma desavença, uma tretinha estilo BBB. Mas quanto mais esperava, mais eu me frustrava.

Ainda sim tiveram alguns momentos que eu vibrei, mas durava pouco. A qualidade da escrita era muito volátil. Tinham momentos que era ela incrível, providenciando uns discursos sensacionais. Em outras, para parafrasear os jovens de hoje em dia, era cringe. Todo personagem PRECISAVA participar de uma conversa, proferindo alguma frase de impacto para mostrar que eles são fodas. O texto ficou prolixo e arrastou a narrativa mais do que o necessário.
Quanto aos 120 personagens, bom, só vou falar que uns 80% desses são esquecidos no churrasco após recruta-los. Eles ficam na base, dá pra ter uma ou outra interação com eles, mas só. São poucos aqueles que participam diretamente da história principal, e menos ainda aqueles que estendem sua participação além do arco na qual eles são introduzidos. No fim, são mais artifícios de gameplay do que narrativo.
Gameplay e Progressão
E falando da gameplay, bora comentar sobre ela. Eiyuden é um RPG de turno clássico que nos permite levar 6 combatentes à batalha. Selecionamos o comando de todos eles e após isso, eles agem de acordo com uma linha de tempo expressa na parte superior da tela. MP é utilizado para conjurar magias, que são estupidamente fortes, mas se tornam viáveis só do meio até o fim do jogo, e SP é usado para habilidades únicas dos personagens. Há também os combos. Quando colocamos no grupo algum personagem que tem relação com o outro, podem realizar ataques em combo para efeitos mais variados. É divertido e promove a alternância entre combatentes.

No entanto, há um grande porém. Eu passei 80, quiçá 90% das batalhas de Eiyuden no modo automático. Ele tem um sistema de configuração de ações automáticas relativamente robusto, mas só usar ataques e habildiades especiais já era suficiente pra ganhar a maior parte das batalhas. Em chefes, porém, eu que ditava todos os comandos. Alguns deles possuíam uma mecânica de artífcio, que era interações com o cenário para causar dano ou evitar um ataque do chefe. A princípio, achei muito massa isso! Um dinamismo pro combate de turno. Mas rapaz, parece que eles só colocaram nos chefes iniciais pra elogiarmos a demo, porque dali em diante eram raros os chefes que apresentavam artíficio.
O satisfatório era ficar mudando de personagens, evoluindo esses e aprendendo suas habilidades únicas. Eu adoro upar todo mundo, então pra mim foi um deleite. Imagino que aqueles que utilizarem sempre o mesmo grupo vai enjoar da batalha rapidamente, ainda mais porque Eiyuden tem um sistema de trava de progressão. Após certo nível, o ganho de experiência é quase nulo, o que impede a galera de evoluir. Por outro lado, se você leva um personagem de nível baixo, é capaz dele ganhar 5-6 levels após uma só batalha, até chegar no limite. O design do jogo promove a constante mudança de membros.
E digo isso porque raramente você vai evitar batalhas, visto que Eiyuden Chronicles tem batalhas aleatórias. Olha, saiba que quem está dizendo isso sou eu, Ryu, alguém que atualmente DETESTA batalhas aleatórias. A princípio eu fiquei extremamente chateado. Batalhas aleatórias são chatas. Ainda mais quando estava fazendo algum puzzle em uma masmorra ou retornando a áreas antigas para recrutar algum personagem.

Só que conforme o jogo foi passando, eu fui aceitando. Um porque as batalhas são bem espaçadas, então dá pra explorar bem antes de entrar em uma. Dois, porque se eu tiver muito forte, dá pra deixar os inimigos fugir, encerrando o combate – ainda sim seria mais produtivo evitar o combate totalmente né, ao invés de entrar nele só pra fugir. E três, porque há muitos meios de reduzir o combate aleatório. E antes de falar sobre isso, quero entrar no quesito de exploração e conteúdos adicionais de Eiyuden.
Exploração e Conteúdos Secundários
Eiyuden Chronicle tem um overworld, aquele mundo aberto visto por cima onde nosso personagem é gigante em comparação às cidades. E eu ADORO overworld. Desde meu primeiro contato com o mundão foi possível explorar ele, ir até outras cidades, e recrutar novos personagens. Isso continua até o fim do jogo. A cada nova área há sempre o lugar principal e alguns opcionais que me forneciam um novo personagem ou itens.
E é aí que o jogo brilha. Eu ADORO expandir e recrutar personagens infinitos, ainda mais quando vários desses contribuem pro crescimento da base e destravam novas instalações, como uma cozinha com pratos que aumenta atributos em batalha, uma fonte termal para relaxar os personagens ou uma zona secreta para subir o level dos personagens rápido.
Evoluir e ver a base crescer visualmente foi um deleite. Coletar materiais não era tão difícil. O mais complicado era encontrar a pessoas certa pra gerir uma construção nova. E gente, no fim consegui construir todas as instalações principais e evoluir a base pro nível máximo. Virou uma fortaleza de respeito. São 120 personagens ao todo, distribuídos entre personagens de batalha, de suporte e utilidade para a base.

E dessas utilidades, há algumas que mexem com as mecânicas base de Eiyuden. Eiyuden Chronicle tem batalha aleatória, um vai e vem constante de lá pra cá, limite de inventário e outras mecânicas que muitos consideram defasadas ou datadas. Mas eu considero esse termo errôneo e um pouco injusto. Foram decisões de design essas características e não uma aplicação técnica que se defasou com o tempo. Eu chamaria essas mecânicas de fora de moda, talvez antiquadas, porque apesar de tudo, ainda tem público e aqueles que gostam. E aqui em Eiyuden, elas tem um propósito de design.
As batalhas aleatórias podem ser minimizadas com um membro recrutável que reduz a quantidade de encontro aleatório e com outro que mata todos os inimigos de imediato em batalha caso esses sejam mais fracos que nosso grupo, e ainda confere espólios como itens e ouro. A limitação de inventário também é contornável ao recrutar um personagem que constrói uma loja de bolsas. Já o vai e vem é obrigatoriamente resolvido, porque é necessário recrutar uma personagem que libera a viagem rápida para prosseguir na história. Enfim, essas mecânicas não foram colocadas ali só pra simular um jogo antigo. Há todo um design respondendo à elas, que pode ser visto refletido no recrutamento.
Por isso que no começo, embora as batalhas aleatórias e o limite de inventário me deixasse de cabelo em pé, no decorrer do jogo, conforme minha base crescia isso foi se revertendo e logo não se tornou um problema. E ao ver que eu podia reverter essas mecânicas com novos membros, me motivou a procurar ainda mais integrantes e expandir até o limite o meu exército digital.

E conforme vamos liberando mais galera, vamos destravando também minigames. Eiyuden tem um meia dúzia de minigames, mas são todos bem superfícias. A pesca só exigia que eu ficasse esperando por um ponto de exclamação para apertar um botão. O jogo de cartas era mais de matemática do que de baralho, embora algumas cartas especiais tenham propriedades únicas. A corrida de… mascotes, eu acho, se joga sozinha, e embora evoluir e cruzar os bichinhos sejam legais em busca dum alazão premiado, eu fiquei maior parte do tempo só olhando pra tela. A corrida de barcos é a mais chata e desengonçada, por sorte só precisei fazer 2x na história.
Por fim, o beigoma, que é semelhante ao beyblade, tinha o maior potencial, mas também se mostrou descartável. Há um pouco mais de estratégia envolvida, mas no fim, eu acabei vencendo os oponentes porque encontrei peões poderosos como drops de inimigos ao invés de recompensas do próprio minigame, o que soou contraintuitivo. Eu teria preferido se Eiyuden tivesse 1 ou 2 minigames, mas cada um com maior profundidade ao invés de todos esses que deixam a desejar.
Aliás, também temos o modo guerra, oriundo de Suikoden. Para simular que somos um exército e não apeans 6 membros enfrentando uma nação inteira, o Eiyuden tem uns segmentos de estratégia onde controlamos esquadrões num campo de batalha. Mas, novamente, é uma parte da jogabilidade bem crua e que praticamente se joga sozinha, ainda mais se você recrutar todo mundo e fortalecer os esquadrões. A útima batalha, porém, regada à trilha sonora Flags of Brave, me deixou arrepiado.

Visual e Áudio
Então bora falar sobre o visual e áudio do jogo. Antes do lançamento, vi relatos que ele tinha muitos bugs, caixa de texto louca, sombras cagadas e outros, mas eu não peguei nenhum desses. O jogo é extremamente charmoso com essa estética pixel-art em 2D e o fundo em 3D, dando essa estilizada de 2.5D. No combate, os personagens brilham com suas animações extravagantes e enérgicas. Mas é só no combate. Fora dele são raras as ocasiões onde tem uma cena animada. Muitas cutscenes são apenas trocação de mensagens, mas com uma atuação de voz bem competente. Você pode jogar com voz em inglês ou japonês, vai do gosto do freguês.
A trilha sonora, produzida por Motoi Sakuraba de Tales of, Star Ocean e Dark Souls, cumpre bem o seu papel. Ela é sólida, não tem um destaque em muitos momentos, mas não deixa a desejar. Porém, tem uma ou outra que é espetacular. A trilha principal é sempre empolgante e me dava aquela sensação de que eu poderia peitar a guerra a qualquer momento, mas a Flags of Brave, a trilha cantada por Sarah Àlainn, a mesma que cantou a música de encerramento de Xenoblade 1, é excepcional. Já entrou na minha playlist do Spotify.

Conclusão
Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes é um jogo que se apega muito à nostalgia do passado. Teve muitos momentos que eu sentia que a qualidade do jogo caía, enquanto outros ela parecia ter um primor além dos padrões. A história é bem previsível, dentre os 120 personagens eu devo ter me apegado a uns 10 ao todo, a batalha por turno se torna super pacata após algumas horas, mas recrutar e desenvolver a base é um prazer incrível, ótimo para quem curte essa sensação de progressão palpável. Fãs de Suikoden vão sim, gostar do jogo. Fãs de RPGs do PS1, talvez precisam estar com a mente aberta e reconhecer que Eiyuden tá pouco se lixando pra tudo que a indústria de games inventou nesses últimos 20 anos, enquanto Fãs de RPGs modernos talvez devam ficar no Stellar Blade que vai valer mais o seu tempo.
Uma chave do jogo para PlayStation 5 foi concedida pela Rabbit and Bear Studios.

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